Transição para a Menopausa: conhecimento e cuidado para um novo ciclo da vida

 

Aos 48 anos, em média, o corpo da mulher inicia uma transformação que impacta sua saúde física, mental e social: a transição à menopausa. Apesar de natural, esta fase ainda é cercada de desinformação, tabus e lacunas nos cuidados. No contexto do Dia Mundial da Menopausa, celebrado em 18 de outubro, especialistas do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) reforçam a importância da informação e acompanhamento adequado para garantir qualidade de vida durante e após essa fase.

Segundo dados da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), cerca de 17 milhões de mulheres no Brasil estão na transição à menopausa (40-65 anos), e 9,2 milhões já estão na pós-menopausa (50-65 anos). A idade média de entrada na menopausa natural é de 48 anos, com sinais de transição surgindo por volta dos 46 anos.

A importância da informação e do acompanhamento dos profissionais de saúde
A transição para a menopausa, período que marca o início da diminuição gradual da função ovariana, exige atenção especial à saúde feminina. Segundo a endocrinologista do IFF/Fiocruz, Lizanka Marinheiro, “o acesso a informações confiáveis permite que as mulheres compreendam as mudanças em seus corpos e busquem apoio necessário, prevenindo impactos negativos na saúde física e mental”.

“O acompanhamento médico é fundamental para aliviar sintomas e prevenir complicações. No entanto, é um desafio garantir que o cuidado seja integral e acessível a todas, o que reforça a necessidade de expansão da qualificação profissional para atender às complexidades desta fase”, reforça Lizanka.

Sintomas e mudanças durante a transição para a menopausa

A transição para a menopausa e a pós-menopausa podem provocar alterações significativas, que vão desde sintomas físicos até impactos psicológicos e sociais. Conforme informado por Lizanka Marinheiro, entre os sintomas mais comuns estão:

  • Ondas de calor e suor noturno, acompanhadas de palpitações e mal-estar;
  • Alterações no ciclo menstrual, culminando na cessação definitiva da menstruação;
  • Ressecamento vaginal, dor durante a relação sexual e incontinência urinária;
  • Dificuldade para dormir/insônia;
  • Alterações de humor, depressão e ansiedade.

Apesar do risco de gravidez diminuir significativamente na transição para a menopausa, ainda é possível engravidar. Além disso, mulheres nesta fase permanecem suscetíveis a infecções sexualmente transmissíveis, incluindo HIV, devido ao afinamento da parede vaginal, que aumenta o risco de lesões e rupturas.

Infográfico: Perfil da População e Impactos da Transição para a Menopausa e Pós-menopausa no Brasil


Impactos psicológicos e sociais

A menopausa não é apenas uma questão fisiológica. Segundo o estudo Menopause Experience & Attitudes, indica que cerca de 79% das mulheres brasileiras relatam sentimentos negativos, como ansiedade, depressão, vergonha e constrangimento durante esta fase. Além disso, 65% acreditam que a menopausa ainda é um tabu na sociedade.

Lizanka Marinheiro destaca. “É fundamental entender a menopausa como um ponto no contínuo da vida, em que o cuidado integral, incluindo suporte emocional e social, promove envelhecimento saudável e qualidade de vida”.

Tratamentos e inovações científicas

Embora apenas 52% das mulheres busquem algum tipo de tratamento, a terapia de reposição hormonal continua sendo o padrão para sintomas mais severos, mas é usada por apenas 22% das que procuram tratamento.

Novidades no campo incluem:

  • Estradiol transdérmico (Lenzetto): absorção eficiente e custo acessível;
  • Estetrol: hormônio estrogênico com perfil de ação potencialmente mais seguro;
  • Fenzolinetant: antagonista do receptor de neuroquinina-3 (NK3) para ondas de calor;
  • Antidepressivos e terapias comportamentais: ajudam a controlar sintomas de depressão e insônia;
  • Hormônios bioidênticos e fitoterápicos: combinam personalização e abordagens naturais.

O Ministério da Saúde (MS) avalia continuamente novas terapias e medicamentos, considerando evidências científicas, segurança e custo-benefício, de modo a ampliar gradualmente as opções de tratamento para todas as mulheres. É importante lembrar que a disponibilidade dessas novidades no Sistema Único de Saúde (SUS) depende de processos regulatórios e de incorporação de tecnologias, que podem levar tempo. 

“Antes de qualquer tratamento, é essencial discutir opções com um profissional de saúde qualificado, considerando necessidades individuais”, orienta Lizanka Marinheiro.

Pesquisa, nutrição e inovação

Diversos grupos de pesquisa e programas de pós-graduação, como os do IFF/Fiocruz, investigam intervenções alimentares e terapias integrativas durante a menopausa. Estudos avaliam dietas ricas em fitoestrógenos, cálcio, vitamina D, bem como suplementos e fitoterápicos para manejo de sintomas.

Segundo a professora e pesquisadora da Coordenação de Ações Nacionais e de Cooperação do IFF/Fiocruz, Maria Teresa Massari, “oferecer aos profissionais de saúde conteúdos baseados em evidências fortalece o cuidado físico, mental e social das mulheres na transição à menopausa”.

Neste sentido, o IFF/Fiocruz lançou recentemente o curso “Cuidado da Saúde durante a Transição para Menopausa e Pós-Menopausa na Atenção Primária à Saúde”, disponível para todos os profissionais de saúde no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) do Instituto. Além disso, têm colaborado na atualização do Manual do Climatério do MS, diretriz nacional de referência, que amplia recomendações clínicas e aborda populações minorizadas, como indígenas e mulheres em situação de vulnerabilidade.

Desafios e políticas públicas

A atenção à saúde da mulher na transição para a menopausa e pós menopausa é um tema em franca evolução no campo da saúde pública. Embora o desafio persista em garantir a integralidade e o alcance do tratamento e da informação a todas as mulheres, o MS tem dado passos importantes. Exemplo disso é a aprovação de diretrizes para a atenção integral à saúde de mulheres na transição à menopausa, enquanto projetos de lei buscam consolidar políticas nacionais voltadas a essa fase. Reforçar a capacitação dos profissionais de saúde e ampliar a cobertura de tratamento são pontos cruciais que estão sendo abordados.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça a necessidade de que a atenção à saúde social, psicológica e física durante a transição à menopausa seja parte integral da cobertura universal. Este princípio é totalmente alinhado aos esforços de instituições como o IFF/Fiocruz, que promovem a capacitação contínua de profissionais e a difusão de conhecimento, visando o cuidado integral e o envelhecimento saudável.

Com mais de 30 milhões de mulheres vivendo na transição à menopausa e pós menopausa no Brasil, a informação e o cuidado adequado são essenciais. Entre prevenção, tratamento, inovações científicas e apoio social, esta fase pode se tornar um período de redescoberta, empoderamento e qualidade de vida para milhões de brasileiras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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